Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

AS MACARONÉSICAS - vol. II

Se acima da linha do mar a paisagem é semi-desértica (mas nada deserta!), debaixo de água o cenário remete para o imaginário tropical. É díficil conciliar aquelas imagens com a noção de que, como diz junto à estatueta da Nossa Senhora das Selvagens, "aqui também é Portugal". Apesar de geograficamente ser África.
Abudefduf luridus, Teira dugesii selvagensis, Arenaria interpres, Naurcrates ductor e Calonectris diomedea borealis

E era um dos mais saborosos momentos do dia, o mergulho na baía das Cagarras, depois de uma manhã de joelhos no Planalto Central apanhando, pesando e medindo pintos. O azul intenso do mar era quebrado pelo salto da rampa de cimento onde preguiçava um bote pneumático, e num instante estávamos rodeados por inúmeras de espécies. Peixes verdes, castanhetas, rascassos e bodiões patrulhavam as zonas rochosas. Nos recantos da baía, cardumes de pequenas bicudas (ou barracudas), tanto maiores quanto mais nos afastávamos - e apesar de não agressivas como as suas parentes trans-Atlânticas, aquelas maiorzinhas sempre impunham respeito. Consta também que a baía era lar de um mero de grandes dimensões, mas de tão tímido que era nunca o cheguei a ver.

Abudefduf luridus - baía das Cagarras

Na boca da baía, cardumes de arenques formavam uma bola prateada à aproximação de um grupo de charuteiros, e com um pouco de calma era possível apreciar como estes últimos iam passando lentamente por entre os arenques, tentando separar um alvo.

Blaps gigas e Sardinella maderensis

Para além do que se via de terra na baía e poças, foi possível ainda desenhar algumas espécies mais pelágicas, que me vieram parar às mãos graças a Mestre Romão, pescador de Machico que se tornou companhia frequente durante a estadia na Selvagem Grande. A ele se deveu um bom número de refeições de gaiado na brasa (e outras iguarias fresquinhas), uma viagem no "Mestre Gregório" ao som de P.E.F. (nas palavras sábias de Mestre Romão, "sem comentários...") e bons momentos de convívio no alpendre da casa. Com ou sem poncha.

Antigonia capros e Macrourídeo


Ficha técnica

data: 03-27/08/2009
material: Moleskine Sketchbook 9x14 e Moleskine Sketchbook Aguarela 14x9; lapiseira 0.5 de grafite e mina azul; aguarela e lápis de cor
banda sonora: som ambiente (P.E.F.)

5 comentários:

Erica disse...

Muito bem rodeado sim senhor! E, como sempre, excelentes desenhos.
Não me digas que no P.E.F. passavam daquelas músicas à Pef, isso era perfeito demais!

Wilfred disse...

Beautiful spreads!

Rui Sousa disse...

Este é um dos fascínios dos cadernos de viagem/ diários gráficos: fazem-nos viajar. Viajamos pelos sítios mas também imaginamos cada passo do autor, as esperas, os silêncios, os sons, o próprio estado de espírito. Em cada desenho há muito mais do que uma simples imagem........gostei imenso

Fuzhong! disse...

Cada desenho é melhor que o outro, está um relato fantástico, sim senhor!

Mesmo feito ao som das Wendys Sulcas deste mundo... :-)

PeF disse...

Muito obrigado a todos.

Erica: P.E.F. conseguiu a proeza de, das duas vezes que fizemos pequenas viagens a bordo do "Mestre Gregório" passar o Bailinho da Madeira - duas versões diferentes. De resto passava Tony Carreira, Quim Barreiros e outros.

Wil: Many thanks. I like the horizontal format for spreads, works better for me.

Rui Sousa: A ideia é mesmo essa, fico contente que resulte.

Fuzhong!: Ainda há de vir mais qualquer coisa, agora noutro tipo de registo mais espedito. E depois de mungida a vaca das Selvagens, há ainda qualquer coisa da Madeira... e Açores (de Março, mas Macaronésicas são Macaronésicas).